quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Da perda

Há 15 anos perdi os meus avós paternos. Num intervalo de 10 meses. Primeiro foi o avô, de quem já tanto falei, e a seguir a avó foi fazer-lhe companhia. Partiram os dois de repente. Hoje reconheço que foi muito doloroso mas não os vi sofrer. As imagens que guardo deles são as de duas pessoas que viviam para as netas, lembro-me de tantas coisas que seria impossível escrevê-las todas aqui. Desde o dia em que o meu avô nos deixou não existiu um único em que a minha avó não chorasse. Desenvolveu uma angina de peito e simplesmente decidiu deixar-se levar, porque a vida não fazia sentido sem o companheiro de sempre. Na semana antes de partir, estivémos com ela. Fiquei sempre com a sensação que se estava a despedir e, até, que quis pedir desculpa à minha mãe por algumas coisas que se tinham passado. E num sábado de manhã decidiu que era a hora de voltar a fazer companhia ao Alfredo. Os meus avós fizeram-me acreditar num amor para toda a vida e deixaram um vazio no meu coração que até hoje não foi preenchido. Por mais tempo que passe a ferida não sara. Mas eu sei, eu sinto que eles estão presentes na minha vida. E sei que se iam orgulhar muito de tudo o que consegui. Muito por causa dele. Por querer honrar aquilo que me ensinou e por querer ser como ele, uma pessoa de bem que deixava amigos por onde quer que passasse.


Há 8 meses perdi o avô de coração. Ontem, passados exactamente esses 8 meses, a avó de coração também decidiu que era hora de se juntar a ele. E deles guardo também as melhores recordações. E a eles agradeço o neto que criaram. A pessoa mais especial do mundo e com a qual desejo passar todos os dias da minha vida. A ideia de terem partido a saber que eu era "a mulher" do neto deixa-me descansada, porque sempre me trataram como uma neta de verdade. Sei que não vou conseguir tratar tão bem dele como vocês, mas vou tentar fazer cada dia melhor. Sei que não lhe vou fazer um arroz doce decente, mas vou fazer-lhe maravilhosas tostas de queijo na torradeira.


Neste momento, temos os nossos avós, que nos criaram e tanto nos ensinaram, reunidos. Só me resta mandar um beijinho para os quatro e agradecer tudo o que fizeram por nós. Olhar para o céu e sorrir.

1 comentário:

Bomboca do Amor disse...

Sinto muito querida, mas eu também sei o que isso é!
Beijinhos,
Bomboca do Amor.