terça-feira, 13 de abril de 2010

De como acabar com um almoço de Páscoa ou a falta de consideração pela profissão farmacêutica

Ensinaram-me os meus pais que quando convidamos pessoas para almoçar devemos ser bem-educados. Tratar bem as pessoas. Mesmo que algum de nós não simpatize particularmente com alguma delas.

O fim-de-semana Pascal foi passado na casa dos meus pais no Algarve, onde temos família. Com o avançar da idade as refeições com muita gente vão-se tornando cada vez mais um sacrifício. Mas por uma questão de cortesia lá se vão suportando.

No Domingo fomos convidados para almoçar em casa de família mais afastada, mas cuja casa é em frente à dos meus pais. Marcação da hora do almoço: 13 horas. Até porque a maioria das pessoas tinha que regressar a Lisboa. O almoço foi especialmente realizado para a filha dessas pessoas, que raramente coloca os pézinhos na “aldeia”.
Não sei se já referi aqui no meu querido blog, mas sou bastante pontual e não gosto que as pessoas se atrasem. Então a dita rapariguinha começou logo bem quando chegou praticamente uma hora atrasada.
E chegou a matar… Começando por dizer que não nos conhecia, a mim e à minha irmã, o que é normal dada a escassez de vezes que aparece. Mas a cara de desprezo que utilizou deixou-me ligeiramente mais furiosa do que o atraso.

Durante o almoço, a propósito não sei bem do quê, começou-se a falar de medicamentos. A moça é delegada de informação médica numa empresa de genéricos. Afirmo desde já que nada tenho contra genéricos. Só que num almoço de “família” a menina que atende o telefone a dizer “não estou” disse que: “Aviar medicamentos qualquer pessoa avia, só temos que os educar”. Isto gerou um pequeno mau-estar (e uma enorme azia na minha pessoa), mas leva-me aqui a fazer algumas considerações porque “quem não sente não é filho de boa gente” e porque tive que me abster de fazer muitos comentários porque estava em casa alheia e não gosto de confusões.

- Aviar medicamentos era expressão que se utilizava no tempo dos Afonsinhos, que eu saiba, actualmente, diz-se dispensar medicamentos.

- De certeza que se eu estivesse do outro lado do balcão de uma farmácia, bata branca vestida e cartão verde a dizer Dra. a criatura não me faltava assim ao respeito.

- Não vou estar a discutir com uma pessoa cuja formação foi provavelmente providenciada por colegas meus e que os desrespeita assim que pode.

- Não vou estar a discutir se os genéricos são iguais aos de marca ou não, quando a pessoa não tem bases para realizar essa discussão e muito menos sabe que estou a tirar o mestrado que está mais relacionado com a produção e avaliação de medicamentos.

- Não posso admitir que me envergonhem a mim e à minha classe em frente a uma série de pessoas e não me defender. Não posso admitir que ninguém me defenda, mas que o pai dela diga “mas todos os medicamentos causam efeitos secundários”... Que é uma coisa que, de resto, eu ainda não sabia... Mas posso admitir que ignorar e deixar a conversa suspensa sem mais discussão é a melhor alternativa para quem não quer estar a entrar em caminhos tortuosos…

- E mais uma vez deixo aqui um apelo: caros colegas farmacêuticos, se não fazemos alguma coisa vamos ter cada vez menos dignidade e respeito. Basta ver o que diz uma delegada que acha que sabe tudo sobre medicamentos quando pensa que está à mesa com pessoas ignorantes e que têm 18 anos.

Posso garantir que quando trabalhei em farmácia comunitária era a marca que ela representa com quem eu mais trabalhava. Mas como sempre, a partir daquele belo dia não mais comprarei medicamentos daquela marca e no que depender de mim também não faço questão de ir a mais almoços destes de família… Porque não me merece respeito quem não me respeita.
Nota: texto que estava guardado desde o dia seguinte ao acontecimento, mas que por diversos motivos só hoje me apeteceu publicar.

1 comentário:

Sissi disse...

Fiquei sem palavras... preocupa-me cada vez mais a nossa profissão... com gente a pensar assim, não sei que futuro isto terá. E quando vejo e oiço determinadas coisas na farmácia, cada vez tenho mais a certeza de que a nossa profissão, é cada vez menos respeitada, e que passámos a ser simples vendedores de caixinhas com nomes esquisitos... É triste...