terça-feira, 20 de julho de 2010

Da degradação humana

É muito difícil encarar determinadas situações a que pode chegar um ser humano. A sua regressão a um estado inicial, a sua degradação contínua e permanente. Custa ver. Custa a ultrapassar. Mas custa ainda mais assistir a uma outra degradação dos seres humanos que muitas vezes rodeiam a pessoa que está verdadeiramente a sofrer. O desprezo, a frieza, o abandono. A falta de humanidade com alguém que nos deveria ser querido. Alguém que nos deu vida, que é o nosso passado, que faz intrinsecamente parte de nós. Que é das lembranças de Natais em família? Que é de lembranças de infância? Que é feito das recordações de todos os cuidados e ajudas que aquela pessoa teve connosco durante toda uma vida?
Não se pode virar as costas quando alguém que nos pertence está num estado fragilizado. Nenhuma destas palavras que escrevo são sobre a minha família de sangue, mas a revolta que se abateu em mim não me permite deixar de escrever sobre isto.
A degradação das pessoas que permanecem distantes e indiferentes chega a ser mais cruel que a degradação de uma vida no seu sentido real.

Avô e avó: estejam onde estiverem, saibam que ainda consigo sentir o sabor dos sonhos de abóbora, o sabor do café Pensal que faziam muito fraquinho para mim, do cheiro da infusão de erva-cidreira que cultivavam no quintal da tia, do toque macio dos coelhinhos e dos pintainhos acabados de nascer. Obrigada por tudo. Obrigada por terem ajudado a tornar-me na pessoa que sou hoje. Obrigada por me terem ensinado a respeitar a vida humana. Obrigada ao Ser Superior que vos fez partir sem sofrerem. Que nos custou horrores, mas que me deixa tranquila porque não vos vi sofrer.

Sem comentários: