sábado, 26 de junho de 2010

Os fantasmas em mim


Desde cedo que sentia uma dor no peito quando acontecia algo que me deixava enervada. Era miúda e achava que era um sintoma normal.

Estávamos de férias no Algarve e estava a chover. Naquele dia eu não queria ir à praia, mas os familiares que estavam connosco insistiram. Ao sair de casa, escorreguei nas escadas e bati com as costas. Fiquei toda esfolada e com dores terríveis. De regresso a casa, o carro de um dos tios despistou-se e nós, no nosso carro, fizémos uma curva a direito e só parámos quando batemos num sinal que felizmente estava lá. Caso contrário, não sei em que parte da ravina o carro teria parado. Ninguém se magoou. Ao almoço não fui capaz de comer, sentia uma dor no peito e tinha a sensação que ia desmaiar. Sentei-me no chão e ali fiquei até achar que não era nada grave.

Algures no 4º ano da faculdade fui ao hospital porque a dor no peito começava a ser insuportável.

Em Fevereiro de 2007, estava a estagiar no hospital. Uma noite acordei com uma grande dor no peito e sem conseguir respirar. Pensei que ia morrer e foi a sensação mais assustadora que já tive. Acordei a minha irmã que, com os olhos cheios de medo, me conseguiu ajudar a respirar. Ser-lhe-ei eternamente grata pelo que fez nessa noite. Dei entrada no hospital para despistar se era doença cardíaca ou psiquiátrica. Acabei na psiquiatria onde me foi receitado um tratamento para ataques de pânico.

Nunca iniciei o tratamento. Farmacêutica que sou e conhecendo bem os efeitos dos medicamentos que me tinham sido prescritos tinha medo de começar a tomá-los.

Início de 2009. Ia tendo crises de vez em quando mas fazia um ansiolítico em SOS. Achava que não precisava de nenhum tratamento. No dia em que apanhei o maior susto da minha vida, quando a minha irmã fez um traumatismo craniano e tive medo de a perder, comecei a entrar numa espiral que não estava a conseguir controlar. Na Páscoa, engasguei-me com um comprimido e fui ao hospital. Mais uma vez não tinha nada. Apenas ansiedade, pânico, sensações que parecem reais mas que não me vão matar. Estive cerca de dois meses sem conseguir comer como deve ser. Ao fim desse tempo, de angústia e de descontrolo total, decidi que tinha que consultar um psiquiatra. Ainda hoje, se me recordo desta história quando estou a comer sinto dificuldades em engolir e acabo por deixar a comida no prato.

Estou há um ano e um mês a fazer medicação de base todos os dias. Faço SOS só quando é necessário. Não ando zombie durante o dia. Quem não sabe não reconhece que eu tomo um antidepressivo e um ansiolítico todas as manhãs. Não tive quase nenhum dos efeitos adversos que temia. Vou de 3 em 3 meses ao psiquiatra para ser controlada e verificar se a medicação está a ser eficaz.

Sou uma pessoa completamente diferente. Arrependo-me de não ter conseguido dar o passo da medicação mais cedo, mas só quando já não aguentamos mais é que percebemos que temos que fazer alguma coisa para mudar. Há doenças que parecem ser um capricho... Mas só quem as vive percebe o quão incapacitantes podem ser. Esta doença condicionou a minha vida profissional, para melhor, porque tentei encontrar uma área que me permitisse ter um nível de stress razoável.

Hoje consigo falar deste tormento que me acompanha desde que comecei a escrever este blog. Porque vivo a vida, aproveito todos os momentos, consigo ser EU. Consigo ser FELIZ e fazer as pessoas que amo felizes. Ainda que medicada.

1 comentário:

Sissi disse...

Como eu te compreendo... Ainda há bem pouco tempo tive um desses "ataques de pânico" (que por acaso ja fazia um tempo que nao tinha), a minha mãe esteve ao meu lado uma parte da noite a ver se me acalmava e se passavam as dores no peito... É uma sensaçao tão estranha, acabei por nao ir ao hospital, mas tive muito medo nessa noite...

**beijinhos