terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Conversas de Supermercado


A senhora que estava à minha frente na caixa não ia para nova. Como é costume (ou não tivesse eu já trabalhado numa farmácia) as pessoas gostam de um bocadinho de conversa. Desta vez reclamava do modo como a senhora idosa do casal que estava à sua frente tratava o marido. "Porque via-se perfeitamente que o senhor tinha Alzheimer, porque tremia das mãos." (Nota: provavelmente o senhor sofria de Parkinson, mas adiante...) "Que em Portugal tratava-se muito mal os velhos... Que isto e que aquilo." Eu já estava mesmo a ver onde é que a conversa ia parar. "Em Inglaterra os velhos são tratados a pão-de-ló, os velhos e os doentes."


Desculpem o tom e o pouco simpático daquilo que eu vou dizer mas, se em Inglaterra é que é bom, porque é que veio reformar-se para Portugal onde tratam mal os velhos e ando eu a pagar a reforma e a assistência médica dela, quando provavelmente tem uma reforma de Inglaterra também? Onde estavam é sempre melhor, mas acabam sempre por vir para cá e, pior, fazer estas conversas em tudo quanto é sítio...

2 comentários:

NA disse...

Eu vejo a coisa assim:
Em Portugal, há dinheiro para os drogados*, mas não há para os idosos. Há dinheiro para afundar no BPN, mas não há para pagar aos clientes do BPP. Há dinheiro para os parasitas da sociedade, mas não há para os doentes. Há dinheiro para os topo de gama com motorista para edis e vereadores, mas não há para as universidades. Há dinheiro para adjudicações directas aos amigalhaços, mas não há para equipar bem as forças de segurança. Há dinheiro para os ciganos, mas não há para as reformas (de alguns). Não há dinheiro para fixar médicos, mas há para alugá-los a >80€/h através das empresas dos amigos.
A Lei não se cumpre – e mal de quem queira fazê-la cumprir. Vêm logo os amigalhaços dos amigalhaços dizer que há que ficar calado, senão…! Os blogs são encerrados, os bloggers processados, os criminosos ilibados, os assassinos confessos libertados, as freiras com voto de pobreza aprisionadas. Os concursos públicos viciados, as cunhas encorajadas e os competentes desempregados. Os maus exemplos vêm de cima. A regra geral é esta.
Ouvi no outro dia alguém dizer – e muito bem – que as coisas estão mal, mas a culpa não é dos políticos. E, de facto, não é. A culpa é nossa. Dos cidadãos. Cada país tem os políticos que merece. A culpa é nossa por eleger e manter lá esta gente. A culpa é nossa, por sermos um povo pouco exigente. De “brandos costumes” e poucas aspirações. As pessoas deviam viajar, ir lá fora, ver coisas novas, ver como funcionam outros países, quiçá mais desenvolvidos que o nosso – mas isto nem sempre é verdade, Portugal tem, acredite-se ou não, dos melhores sistemas de saúde do Mundo e das melhores mentes do mundo nalgumas áreas. Só temos um problema: não há dinheiro… Ou se calhar até têm.

* - Não, não são toxicodependentes. Esses são pessoas que tiveram um “azar” na vida e querem, de facto, tratar-se. Refiro-me aos drogados, para quem a metadona e afins são apenas mais uma dose. D-r-o-g-a-d-o-s, tal como é politicamente incorrecto denominá-los.

teardrop disse...

Caro NA,
Agradeço o facto de leres o meu blog e de deixares sempre comentários construtivos!

Ainda a propósito de outras conversas que temos tido, é por isso que acho que temos que ser nós a mudar, não o Mundo, mas o pequeno mundo que nos rodeia. E são essas pequenas vitórias que nos vão dando alento e motivação para continuar a acreditar que podemos fazer algo por nós e pelos outros.