quinta-feira, 9 de abril de 2009

É o que temos...

"É preciso substituir imediatamente 15 equipamentos de radioterapia e duplicar o número de aparelhos e de profissionais que trabalham nesta área, preconiza a Coordenação Nacional para as Doenças Oncológicas num estudo sobre o estado da radioterapia em Portugal. Divulgado na passada semana pelo Alto Comissariado da Saúde (apesar de ter data de Novembro de 2008), o estudo destaca as grandes insuficiências da radioterapia a nível nacional, notando que entre 50 e 60 por cento dos doentes com cancro têm indicação para ser tratados com esta modalidade terapêutica.
“O equipamento existente na maioria dos serviços está envelhecido e é insuficiente para tratar em tempo útil os doentes oncológicos que necessitam de tratamentos”, acentua o documento, que critica ainda o facto de não se terem aberto “novos centros de radioterapia em hospitais estatais”. Para suprir estas lacunas, o relatório traça uma estratégia que prevê a dotação dos centros, até 2020, com 64 unidades de radioterapia externas (hoje há apenas 35 aceleradores lineares) e um plano de formação “que garanta pelo menos a duplicação dos profissionais em exercício”.
Actualmente há 68 médicos nos centros que fazem radioterapia, sendo que este estudo aponta que são necessários 140; e existem 232 técnicos, quando seriam necessários 558."

In Público, 06-04-2009

Sou profissional de saúde. Durante o meu tempo de curso, uma das áreas pelas quais me interessei especialmente foi a oncologia. Para além das terapêuticas com medicamentos (que são a minha área e que muito podem continuar a evoluir de modo a contribuir para uma melhoria da qualidade de vida, longevidade e cura destes doentes), existem outros tipos de tratamento, entre os quais a Radioterapia. Esta área também me é particularmente cara por motivos pessoais. Existem técnicos de Radioterapia que não têm emprego (entre tantos outros profissionais de saúde que vivem a mesma situação, é certo). É por isso que esta notícia me causa espanto e revolta. É incompreensível que este tipo de situações aconteça num país está supostamente em evolução e onde se fala tanto em “tecnologia”. Retiro daqui que alguns doentes podem não estar a ser tratados mesmo tendo indicação para fazer radioterapia ou, pelo menos, não estão a ser tratados em tempo. O que também depreendo é que os centros não são acessíveis a todos os doentes e essas deslocações podem ser uma fonte de problemas e transtorno para doentes que precisam da máxima estabilidade possível. Quando estagiei no hospital tive a oportunidade de passar alguns momentos no hospital de dia e esses momentos foram uma lição de vida. Sei que os profissionais que trabalham na área da oncologia primam por ser profissionais de excelência, procurando a todo o custo o conforto e qualidade de vida do doente. Preocupa-me que possamos estar a investir nas opções erradas, mas a opção não é minha, e certamente não será a da maioria das pessoas. Este desinvestimento em saúde que observamos de cada vez que lemos estas notícias ou de cada vez que temos que recorrer a alguns serviços de saúde públicos, causa-me desassossego. Uma população que não tem saúde não pode ser uma população produtiva. Acho que será altura de ponderar para onde queremos ir. Espero que este estudo sirva para trazer alguma mudança de futuro, aguardarei para ver. Fazemos tantas obras megalómanas, as quais frequentemente questionamos que real utilidade têm para o país… que tal investir uma parte de algumas “loucuras” na área da saúde?

Sem comentários: