terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Contrastes

Sinto-me imensamente triste mas vou com um sorriso. Apesar de levar o mapa na mão, acabo por me perder. A vista da zona onde me perco é fabulosa. Descubro que o caminho certo só pode ser a subir e é para a subida que me dirijo. Retomo o caminho correcto e chego, mais uma vez, cedo demais. Hora de almoço e novo passeio pela zona, Lisboa é uma cidade de muitos contrastes, a cada momento cruzamos silenciosos a nossa vida com muitas vidas diferentes. Estrangeiros, portugueses de todos os estilos, até os estilos mais esquisitos. Durante o meu percurso cruzo-me com a pobreza. Pobreza encolhida no chão, pobreza que deambula solitariamente no meio da multidão, chapéu estendido esperando as migalhas de uma outra vida que passa por ali. O homem que agarra o pão que encontrou, sabe-se lá onde, já ressequido e difícil de engolir, que ele abre com a felicidade de uma criança que desembrulha as prendas de Natal. Cruzo-me com a tia, requintada, que nem num dia de calor abdica do seu casaco de peles, bichos de outrora que agora cheiram a mofo ou a lavanda. Continuo a caminhada, o fumo negro mas aromatizado das castanhas assadas faz esquecer o perfume que emana da casa de velas centenária. Finalmente encontro sítio para almoçar, existe uma enorme barafunda, pessoas que andam em busca de mesa, falando alto, pessoas que comem freneticamente porque uma vida urgente espera-as lá fora, pessoas que lêem o jornal e outras que trabalham no seu portátil. Esqueço tudo... sortuda, consigo escolher mesa com vista para a cidade. Lá fora, o castelo surge imponente. As casas antigas, esquematicamente alinhadas, parecem apenas um quadro e consigo sentir o silêncio.

Entretanto, estou de volta ao meu pequeno mundo.

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